Devaneio

Ao final da tarde

me sento de baixo da figueira

me recosto em seu tronco sentindo a sua rugosa sabedoria

em minha pele protegida por um tecido diáfano

A brisa refresca ao meu redor

fazendo as folhas rodopiarem ensaiando "festinha" aos meus pés

Um bocejo

Sinto os olhos pesarem, mas as pálpebras resistem

Os sons, a minha volta me embriagam

Um vento mais forte e faz chegar o perfume doce das flores que anunciam que logo chegará a noite

Uma torpeza me toma, mas ainda resisto

Me recosto mais e sinto conforto

Como se estivesse abraçada por músculos viris porém macios

A respiração se aprofunda e percebo aquele cheiro doce...e conheço...

Não é jasmim

É o cheiro do teu suor amalgamado ao meu deleite

A brisa ora fresca, agora cálida

eletriza minha espinha num arrepio

posso sentir tua ofegância sinto que tu procuras por meus lábios

mordiscando num beijo que não acontece

provocando, me umedecendo o canto da boca por fim

afogando toda urgência da tua sede

sufocando as palavras desnecessárias

Sinto cada músculo me aprisionando e comandando

Num ritmo que nos leva à torpeza

Blecaute!

Abro os olhos e tento definir o que está a volta

a noite já caiu

só o silêncio das sombras

a brisa fresca agora é uma neblina gélida

Tento aquiescer à razão

Estou só

Vou pra casa.